sexta-feira, dezembro 16, 2005

"Pelos cantos, pelas entrelinhas"




Muitos ousam dizer que sou um cafajeste,
e eu treplico, com toda a minha angústia cega,
que sou um benfeitor às almas humanas,
pois as ensino a amar na essência do amor,
as reverencio como sempre sonharam em serem reverenciadas,
multiplico-as em troca de um sorriso verdadeiro
nesse mundo de dementes.

Eu me construi poeta para satisfazer os desejos
dos seus olhos doces e puros,
eu me transformei num amante sem limites para satisfazer
aquela fantasia tão bem guardada há anos,
eu arduamente me conquistei para te conquistar,
me revirei para te revirar,
aprendi a te adorar para ser adorado por sua alma
relutante e perceptiva

Degustei sozinho todas as sensações possíveis,
imaginei cenas e situações incabíveis a uma pessoa sã,
fiz de tudo para me parecer lógico nesse meu mundo
de sonhos e abstrações,
para te fazer compreender de vez que meus sintomas
tão malucos são reais,
que minha satisfação contigo suada em meu colo é única,
que seus lábios nasceram para serem mordidos pelos meus,
que renascemos para contar a nossa história nas entrelinhas...


Fiquem em paz...
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quarta-feira, dezembro 07, 2005

"Fruta sem fruto"



E o meu peito, e o meu sangue,
e o tudo que me repete tanto,
tantas palavras perdidas,
tantos sentimentos sem sentido

Tudo acaba se transformando
na história sem personagens
que tanto me entrega,
que tanto me engana

E me isolo carente, ausente
austero, astuto,
premeditando tantas coisas,
coisificando as simplicidades,
sentindo os detalhes tão prematuros.

E meu recheio vai ficando mais amargo,
como uma fruta que passa do ponto na fruteira,
com as drosophilas corroendo cada pedaço,
cada curva, cada sentimento.


Fiquem em paz...
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quinta-feira, novembro 24, 2005

"Como nos velhos tempos"



Acordei com uma vontade imensa de dizer ao
mundo as palavras e pensamentos que percorrem
dentro de mim.
Descobri que a cada dia que se passa, as pessoas perdem
sua autenticidade, sua intensidade e sua personalidade.
Prisioneiros de uma idéia e de um mundo globalizado,
as pessoas viraram egocêntricas, individualistas e por que
não dizer "fantoches" de frases, modas e pensamentos ditadas
por alguém.
Voltamos a era da escravidão. É isso, somos escravos novamente.
Escravos modernos, mas escravos do dinheiro, da televisão, do
capitalismo, do modismo, da vida fácil, da corrupção, da modernidade ...
"Somos estranhos em nossas casas."
Salve o campo, o cheiro da terra, do interior, do trabalho, do respeito,
da pouca modernidade, das fazendas, dos lampiões a gás, da chuva,
da roça arada, da cachaça de alambique, da ignorância ...


Texto: Guilherme Bim

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quarta-feira, novembro 16, 2005

"Novo ciclo"



Dizem que às vésperas do término do nosso ciclo
entramos em um inferno astral,
e só posso dizer que se o que vivo
estiver nessa fase, quero passar o próximo
ciclo no meu inferno astral.

Ganhei antecipadamente presentes e gestos
que me marcaram demais, recebi pessoas
de coração aberto e carinho suficiente
para deixar um mundo inteiro condolente,
e ultrapassei todas as formas e barreiras
conduzindo minha vida a uma plenitude muito rica.

Transbordei, arranquei lágrimas de amor,
errei ao derramar lágrimas bravas,
emocionei, em nenhum instante que tenha
recordação fui morno ou indiferente,
fiz e falei o que gostaria de ver e ouvir,
ousei e fui absurdamente bem recompensado,
e estou confiante na beleza e na leveza
que meu novo ciclo me proporcionará,
com as mesmas convicções dos meus sonhos
e com a mesma reprocidade amorosa que meu
coração observador pode conceder...


Fiquem em paz...
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segunda-feira, outubro 31, 2005

"Gosto pelo sereno"



Sinto uma grande atração
pelas noites abraçadas pelo sereno,
pois ele molha do jeito que eu quero
as terras, para eu colher flores
que tanto recheiam minha adoração por presentear.

E do mesmo jeito que gosto do sereno
gosto dos anseios e da contra-mão
que por vezes acomete-se
nesse meu tresloucado aprendizado mundano.

Cada pedra atirada contra meu rosto
faz minha pele mais resistente na cicatriz,
minha mente mais conhecedora de quem não suporto,
mais vívida pela falsidade constante
que cuidei e criei com afeto.

Cada porta tão cegamente fechada às pressas
ao meu sorriso me transporta ainda mais
à sutileza do meu mundo, à magia
daquele ambiente forrado de gente que se
orgulha por ser inteligente e livre.

E vejo tantos muros levantados infundavelmente,
tanto trabalho feito sem saberem em prol do meu conforto,
tanta luta sendo batalhada sozinha,
tanta paz no meu espírito
que me transbordo de agradecimentos
ao meu sábio companheiro destino...


Paz e sorte pra quem precisa muito...
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quarta-feira, outubro 05, 2005

"Medo de infância"



Sou um adjetivo corrompido
dentro da exaustão de ser o que sou.

Miro alvos milimétricamente,
mas minhas flechas sempre arrebatam
a cruz errada, constantemente me
depreciando em tudo que com afinco construo.

Torno-me mágico por dias a fio,
treino malabares com os meus sentimentos desencontrados,
e fico confuso com esse tudo que me sucede,
muito perdido nesse não sei o que fazer,
nessa angústia surda de não saber por onde ir...

Meu braço dolorido reclama da tristeza
que o não-reciproco me traz,
mordo o dedo para acordar
e me descubro causticamente desperto,
solitário, amante, enjaulado.

Abro a janela, ligo a TV para escutar
um pouco de música que não me agrada,
disco até o penúltimo número do seu telefone
e desligo com receio de acordar
quem não me deixa dormir,
me podo das mais perversas formas,
para me demonstrar tranquilo,
quando na verdade estou desesperado
não querendo reviver meu maior trauma de infância,
que é o meu medo de perder...

Fiquem em paz...
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sexta-feira, agosto 19, 2005

"Na espera de um milagre do tempo"



Estava dormindo e acordei de repente, querendo te contar uma história que se passa dentro de mim...
Fiz uma analogia ao que eu sinto por você com um celular.
Cada hora sem você vou diminuindo, vou ficando mais fraco, necessitando uma nova recarga, e percebi que depois de um final de semana que ficamos colados um no outro, a segunda-feira passa tranquilinho, com carga cheia na lembrança gostosa do amor desprendido nos três dias anteriores, na terça-feira já começo a dar sinais de fraqueza, mas ainda aguento firme, mas na quarta-feira já amanheço descarregado, disperso, pensando na possibilidade de te surpreender com uma visita no meio da noite, na quinta-feira acordo sem conseguir ligar, fico desligado do mundo relembrando com aquela saudade doída pela quantidade exagerada, e não consigo prestar atenção em nada, meu corpo implora pelo seu, não consigo me conter, não consigo parar de pensar nas minhas mãos felizes passeando pelo seu corpo torneadinho, e fico lesado, perdido, insône, até que tropeço na sexta-feira e acordo esperançoso, audácioso, reenergizo-me para conseguir me arrastar até o último conselho dos seus mestres, e aí sim, me esbaldo nessa intransigência, me acabo nesse sem regras que é viver ao seu lado, me distancio do mundo para afunilar meu coração por você, e me deleito passeando mão, boca na nuca, peito com peito, perna com perna, pêlo com pêlo, sonho com sonho...
E volto o relógio várias vezes para você não perceber que está tarde, tento te embebedar no domingo para que você acredite que ainda é sábado, tento todas as formas possíveis para me manter ao seu lado, mesmo que imóvel, mesmo que cansado, mas fico firme, à espera de um beijo macio e excitante, à espera de um afago, à espera de um milagre do tempo...


Fiquem em paz...
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quarta-feira, agosto 10, 2005

"Obrigado"



Eu, andrajo desmoronado que sou por dentro
fui obrigado a me refazer em poesia para
cintilar por todos os arredores,
para causar uma impressão errônea do meu verdadeiro
estado de espírito desviado do normal.

Aprendi, dentro dessas obrigações diárias,
a me portar como um louco em festas sociais,
a usar meu temperamento contra mim,
a disputar todos os meus risos com todos,
consagrar minhas vitórias em silêncio,
dentre tantas arrogâncias que até me falho na memória.

Aprendi a ler, a escrever, a julgar e a perdoar,
me tornei cego aos temas que não me agradavam,
adocei dissabores incríveis, caminhei até meu ciático doer,
adormeci recostado na mais dura pedra do meio do caminho,
remoi tantos paradigmas, remexi com tantos sonhos
que hoje chego a sonhar que um sonho pode ser um sonho.


Fiquem em paz...
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sexta-feira, agosto 05, 2005

"Fui tudo quando trai sem trair..."



Fui sugado pelo desespero de subverter tudo o que está ao meu redor. Fui ousado quando ousei ousar. Fui fantástico quando me calei para ouvir palavras que não me serviriam para nada. Fui universal quando sorri e pude ver a doçura do mundo se abrindo aos meus pés. Fui saudável quando desisti. Fui brilhante quando desisti do sonho para procurar um sonho. Fui perspicaz quando tudo me parecia rebeldia, e me transformei no ator sem platéia que sou, equilibrei-me para seduzir minha mãe, minha falecida avó, fui triunfal quando consegui levantar da cama com o bom humor que me persegue, e desencadeei uma sucessão de fatos, uma sucessão de erros e acertos e erros e erros, até chegar no climax do meu fervor, e percebo, desatino, pulso um caminho parado, vivencio uma fuga sem rumo, uma aventura sem graça, sempre me perguntando o porquê de levantarmos e brilharmos a aura a outrens antes de ascendermos a nossa, e as nossas escolhas, escondidas, apagadas, trituradas pelos nossos medos. Mas e se eu pedisse a mim mesmo e a você, que é parte de mim, para que não sentisse medo, que não transparecesse horror, de que nos adiantaria, se estamos apenas preocupados com os nossos braços atados sempre aos braços atados de quem não nos quer? E por que não mudamos, não buscamos uma mesma história em outros personagens? Por medo do abandono? Do se revelar sem ser revelado?
Eu forjei tantas regras, inventei tantas histórias, minuceiei tantos dicionários, mas apenas fui excepcional quando pude trair sem trair minhas verdades...


Fiquem em paz...
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quarta-feira, agosto 03, 2005

"Crise"



Em suma, somos uma crise existencial de um pedaço de mal caminho.
Imploramos pelas princesas e príncipes, principiamos uma história como aquelas dos livros que líamos por obrigação para o vestibular, suspiramos, marejamos nossos olhos e embargamos nossas crianças, derrubamos tudo por um olhar, por uma simples atenção desprendida a todo instante, e quando o conosco nos acontece, nos precavemos de tal forma, nos culpamos de tal forma, que carecemos de ilusão de um psicólogo, de um tratamento único para aprender a amar.
Acho psicólotras do amor uns idiotas e mentirosos, impõem a si mesmos a incapacidade de enxergar o óbvio, deturpam a poesia, deturpam as palavras com engrandecimentos falsos, com religiões e paz de espírito que estão destroçados, e deixam de ver e sentir o abraço, o afago, a ternura.
Não sei se me encontraria novamente num mesmo local esperando aquele alguém inválido, não sei se me cegaria a olhar a minha pasta ao ponto de não ver rabiscos, não sei se sentiria nojo do seu beijo, não sei se conseguiria me firmar como seu príncipe, não sei se conseguiria encolher meus ombros de arrependimentos, só sei que você poderia ser feliz envolta nos meus sonhos, só sei que te daria mais orgasmos em um mês do que você teve em vida, só sei que você seria eterna nos meus poemas, nas minhas lágrimas, nos meus objetos, na minha lembrança vazia de você...


Fiquem em paz...
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quinta-feira, julho 21, 2005

"Dessa vez?"



Hoje chove, é mais que noite dentro de mim
e transeunte comum que sou me desfaço
para compreender o caos em que sobrevivo...

Tenho vontades incríveis, de parar o mundo,
de sussurrar minhas verdades, regurgitar
verdades ilusionárias de poesia,
vontade de urdir do fundo do asfalto
as raízes que nos enredam e definir
o ritmo, a rima, a paixão para com tudo
que é tão falso e que calados acreditamos.

Paro, remoendo meus medos, revigorando minha antiga paz,
restrito, reparo em cada detalhe lindo como um defeito,
absurdo, trituro tudo o que construo como quem ama,
desesperado, enloqueço em busca de uma forma,
de uma flor em terras que sofrem guerra.

Mas mesmo assim permito-me reparar em tanta coisa,
vejo-me tão abençoado e tão ardil,
sugo um mundo que me odeia,
encosto em um personagem que não me sabe,
que não me desconfia do que sou,
e escrevo, escrevo, sempre pensando num único tema,
sempre tendo um único sentir interior,
sempre o longínquo de mãos dadas com o efêmero que sou,
e me distribuo em tantos que passo a ser um,
desvencilho-me de mim para ser herói
de uma vida sem ambições ou magias,
e me perco sem esperar nada em troca,
para ver se me reencontro...


Fiquem em paz...
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domingo, julho 10, 2005

"Sim, desmascarado...."



Sinto uma necessidade absurda de acontecer,
e vejo meu mundo quase parado,
com muitos alvos pouco realizáveis,
com tantos emblemas sendo admirados apenas...

É tanta força, determinação, é um grito
que explode sem função para o todo,
gestos que consolidam minha angústia,
que antecedem o suicídio da minha verdade...

Pressiono-me, mas me vejo irreconhecível,
não crível nos meus passos cansados,
não satisfeito com meu resultado final.

Tento justificar minhas fraquezas com afagos,
ilumino tantos caminhos, arranco palavras
extintas dos que se aproximam com verossimilhança,
aconchego sem ser nunca aconchegado,
sustento veemente mesmo sem carinho,
lutando minha luta infantil sem combatentes,
tentando provar à mim mesmo
minha inconcebível visão,
provar que meus disturbios psicológicos são etéreos,
e ao mesmo tempo desesperado para definir
de uma vez o destino a que me designaram
a cumprir no descansar da minha alma relutante...


Fiquem em paz...
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quinta-feira, junho 23, 2005

"Por que será?"



Por que será que as pessoas me ligam tanto enquano tento dormir?
Será que elas não percebem que sou um só e que sinto um monstro escuro e perdido dentro de mim?
Será que tenho que ter forças e escudos para dissolver meus traumas e ajudar os tantos pobres de mim, que ainda são mais fortes do que os meus fortes?
E repenso em tudo, reviro meu sentimentos, revejo minha auréola, minha hipocrisia percebendo que não tenho mais como chorar, que não tenho mais como prever, que não tenho mais nada dentro de mim por medo, por fraqueza, por verdades adormecidas.
E meus tantos sonhos?
Quanto tempo mais irei ficar dormindo atendendo aos pedidos de todos e deixando de atender os meus desesperos, os meus berros que só eu escuto?
Desligo, desfecho, desleixo, fecho todas as portas dignas para tentar abrir o meu céu, designo tudo a todos e todos sequer me escutam, desatino um teor malogrado para tentar vencer, e me frustro por não conseguir a verdade que recheia minhas vontades...

Regurgito, para que eu possa ser feliz, quem sabe um dia...



Fiquem em paz...
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sábado, junho 18, 2005

"Tudo quanto"



Nos encontramos hoje assim,
a solta, buscando sonhos e realizações tão perdidas,
tão insolúveis, tão frívolas...

Prendemo-nos a certos rancores
díficeis de lidar, quase impossíveis
de esquecer, e esquecemos o tudo
que nos cerca, negligenciamos
a roupa constantemente suja que somos,
ocultamos o desmascarar diário para não ser desmascarado,
o lutar sem regras para não morrer na praia da solidão.

E me sinto hoje plágio do que fui
com o que gostaria de ser,
num universo tão conturbado que custo a acreditar na verdade que me tornei,
e nas dificuldades que enfrento para exercer minha personalidade calma e coerente.

Tudo como uma fábula real,
tudo tão incoerente e incerto como meu presente,
tudo tão estreito quanto minhas certezas,
tudo tão deturpado quanto meu estilo de vida...


Fiquem em paz...
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terça-feira, maio 24, 2005

"Eu te ter você"



Eu te lua minguante,
eu te algodão doce,
eu te sorvete napolitano com calda de chocolate e mm´s,
eu te abacaxi,
eu te leite quente no frio,
eu te sonho de valsa,
eu te chuva,
eu te rocambole de morango,
eu te água gelada,
eu te domindo a tarde no parque,
eu te música,
eu te poesia,
eu te manga doce,
eu te chocolates finos de Campos de Jordão,
eu te poesias de Fernando Pessoa,
eu te com você debaixo do edredon,
eu te stragonoff de frango com batata palha e cogumelos,
eu te formatura de faculdade,
eu te praia de palmas,
eu te cachoeira,
eu te fim de semana no campo,
eu te noite bem dormida,
eu te arco-íris,
eu te margarida,
eu te frio,
eu te madrugada,
eu te brigadeiro,
eu te você...

Fiquem em paz...
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terça-feira, maio 10, 2005

"Hora certa"



Se a hora fosse certa para viver,
do que viveria eu?

Das incertezas dilacerantes
que meu coração sente nesse amor de mentira
que passo meus dias regando?

Dos passos incertos que eu vanglorio
por não ter certeza de nada?

Das confissões que venho ridiculamente
fazendo no meu caderno de borrões inúteis?

E se eu transformasse tudo o que vivo
em uma história linda, daquelas de livro,
seria respeitado?

Seria honesto continuar conquistando
pela visão antecipada que tenho das almas sedentas?

E eu, que papel tenho eu no mundo?
Comediante de peças irrisórias e fúteis?

Palhaço de picadeiro sem público?

Escritor sem conteúdo numa terra inefável?

Patético sentido mórbido que defino a tudo
que cismo em acreditar que me faria feliz...

Patético levantar e se deitar que dedico
a mim todos os dias, na primeira página
do meu livro nunca começado,
da minha epígrafe destituida de verdade...

Verdade que nunca sorri para o falso poeta...


Fiquem em paz...
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quinta-feira, abril 28, 2005

"Espero o quanto precisar..."




Espere! Ainda mal começamos a brincar e você já está indo brindar
suas decepções com seus amigos?
Espere! Ainda tenho que tentar aclamar suas derrotas,
ainda tenho que enaltecer seus podres e teoremas,
ainda tenho tanto a denegrir da sua imagem mentirosa
que fico com medo, com muito medo de começar...
Na verdade, me sinto tão perdido que ainda não sei
se devo tocar nessa ou naquela ferida, ou, quem sabe,
nas duas de uma só vez...
Espere! será que a mentira serve só para mim,
será que ser enganado por nada que valha a pena
é sintoma da minha loucura por você?
Espere! estou enlouquecendo e não estou percebendo,
ou você realmente canta em meus sonhos como quem canta
em um jardim imenso, com muitas flores sem folhas?
Espere! Quem somos, como fomos feitos, e onde paramos,
e quando passamos a decidir o que somos?
Espere! Sinto-me sendo de algodão-doce, sinto-me feito
de pedras, de granito - pois me sinto valioso -
mas me sinto tão frio quanto tudo isso.
Espere! Cante para amenizar minha dor, ela soluça
como quem precisa de comida, ela descabela-me
como descabelo-me ao pensar na sua derrota.
Espere! Cale a boca e escute meu coração dizendo que te ama.
Espere! Não fique silenciosa desse jeito,
não fique sem responder minhas súplicas,
não me deixe enforcado pelo que mal começou...
Espere! Desconfie de mim, por favor, eu não sou o que você
pensa que eu sou. Sou ruim pra dedéu, sou mal,
sou repulsivo, sou de escorpião e me mato por ódio,
sou trancado no meu mundo de sorrisos.
Espere! Preciso te contar o maior de todos os segredos,
aquele que você tentou roubar de mim,
o segredinho ridículo de que nunca senti nada,
a não ser status, muito status por você.
Espere! Não se confunda, preciso dizer tudo...
Não, não vá embora, preciso que fique,
preciso de você, não me deixe abrir a porta,
porque quero voltar até você, e se eu abrir
não mais voltarei...
Espere! Abra você, preciso ir, não me deixe abrir.
Espere! Preciso apontar essa coisa fria para o seu peito,
preciso engatilhar esse troço que comprei ontem,
preciso apertar essa meia lua...
Espere! Sim, espero...
Quer dizer que me ama?
Espere! Preciso sentir seus lábios, preciso de um último beijo...
Espere!
Não, não mais espero...
Preciso descansar na minha paz forjada e recheada de mentiras...


Fiquem em paz...
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quinta-feira, abril 21, 2005

"Raios cor de céu"



Estive ali, defronte aos fatos óbvios, tanto tempo
que não pude perceber suas garras cruéis,
que não tive coragem de abrir os olhos e ver seu egoísmo,
que não tive coragem de me entregar...

E você passa, passa, passa, todos os dias pelos meus olhos,
todos os momentos pela minha consciência, relembro-me
dos traços, do carinho, da poesia, do canção que me urde
e me torna insuportável ao meu prórpio mundo,
mundinho doente de uma alma doente e frágil
que carrega o fardo da escrita e das artes.

Não me noto ao te notar, não nos vejo ao te ver me olhar,
e sinto vontade, me corrôo para um dia encontrar
e ver o paraíso, ver léguas e léguas nos separando
e nos unindo, nos eternizando...

Vôo por planetas malucos e negros, obscuros em busca
dos seus raios cor de céu, deixo-me dourando para aquecer
seus desejos carnais, transcendo-me ao último mendigo
e ao pobre milionário, passo a entender filosofias de Osho,
de Kafka, de Aristóteles, passo a crescer dentro das minhas
restrições para que me enxergue, passo a escrever incessantemente
para fazer barulho, e me vejo acompanhado e sozinho,
sorrindo num luto que não termina, um luto aterrorizador
como os de Gabriel Garcia, uma tempestade imunda como as de Camus,
com lágrimas incoerentes, como as do Neves...

Se hoje olhar para cima, não irá me encontrar,
se amanhã olhar para frente não me verá,
se depois de alguns dias olhar para baixo
também não me verá, porque eu deixei de existir
na fantasia do seu mundo malogrado de esperanças...

E o dia que eu for te buscar, não se esqueça
de que será para sempre...


Fiquem em paz...
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terça-feira, abril 12, 2005

"Finjo"



Finjo que minto que sou,
sinto que minto que finjo,
finjo mentindo que sinto,
sinto fingindo que minto...


Fiquem em paz...
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sexta-feira, abril 08, 2005

"Escritos"



Hoje silencio-me para não ter que reler
meus terrores escritos no futuro.

Hoje silencio-me para não relembrar
meus erros escritos no futuro.

Hoje silencio-me para não reler
meus absurdos escritos no futuro.

Hoje silencio-me para não aceitar
meu presente escrito no futuro.

Hoje silencio-me para não acreditar
nos meus escritos no futuro.

Hoje silencio-me por me machucar
essa ilusão tão real.

Hoje silencio-me, por ter medo de amar...


Fiquem em paz...
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quarta-feira, março 09, 2005

Que fome de tudo nessa vida...



Que fome de tudo nessa vida...

Às vezes me sinto como se tivessem apagado minha lua,
meu sol e minha vida, e desatino repentinamente numa
tristeza passageira, ocorre-me um sintoma drástico
de algo que não sei explicar, e levanto-me do sonho absurdo,
brusco, vivo, real, em busca de uma mudança exterior
para um mesmo cotidiano interior...

Percebo o quão sou pecador de mim mesmo,
o quão prolifero meus defeitos e colho
sempre os mesmos frutos amargos de todo dia.

Passo a enobrecer a tudo que está ao meu redor,
passo a ser tudo o que eu gostaria, sem as tantas falhas,
e desatina-me uma dor sem sentir dentro do meu coração...


Fiquem em paz...
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segunda-feira, março 07, 2005

"Sonho realidades"




Você, por que se encontra tão longe das artes?

Você, que faz da sua realidade o meu sonho,
por que está tão distante e frigida
para com o poeta que veio te resgatar
de outra vida para que viva?

Você, que tem amor e ódio,
que está desiludida em meio a chuva,
que grita nesse silêncio absoluto dos seus olhos
por que faz isso contigo, menosprezando-me?

Você, que é fechada (mas tem luz),
que é ríspida (mas é doce),
não te envergonhas dos seus atos insólitos?

Você, que é encandescente à minha arte,
não se sente tocada pela fantasia?

Una-se!

Ou tens medo?

De mim ou do seu tesão?

Medo de ser desvairada por um desvairado múltiplo?

Quero deleitar-me com que me é de direito,
deleitar-me com o que nasceu para mim,
como hoje recobrando a memoria me deleito...

Evoco Deuses como quem sente saudade
de amor perdido e que ainda é doído
e os reverencio pela obra poética
que implantaram nas minhas viagens
e loucuras tão sãs do meu cotidiano.

Olho mil retratos por minuto e todos
se transformam nos seus traços,
nas flores que te vestem tão serenamente,
no cheiro que me recolhe do mundo
e que te dôo com exclusividade...

Redesenho seus ombros que me arrepiaram
e me questiono sobre tantos sentidos,
tantos loucos que vivo e tantos
que deixo de compreender sem razão de ser.

Olho para a vida e me seduzo
como quem quando criança se seduz
pelo doce proibido pelos adultos
e ne vejo tal quais chorando,
tentando frenéticamente fazer barulho
e chamar a atenção, mas a mim
o doce sempre vem em forma de materialização,
sempre se evapora ao meu toque suave...

E eu me vejo em fotos do passado
e pergunto-me: será que era feliz?

Não me lembro, pois eu sou uma transição
entre o absoluto que sou e o espaço
vazio que sopu na lembrança desfocada.

À tudo me desfoco, nem ao menos
tento compreender em meio a tanto
alvoroço, e tão em silêncio...

Sinto-me cansado de ser o que sou,
mesmo colhendo frutos tão mágicos,
mesmo tendo as mais expressíveis imagens
do amor e das artes, torno-me circunspecto
em relação aos verdadeiros dotes da vida,
porque a vida é o sonho que eu sonho
e não essa poesia que eu vivo...

Abstrato?

Talvez, para corresponder às tantas máscaras
que me obrigam a usar...

Todos deveríamos comprar uma máscara
de festas e fazermos tudo isso que fazemos
inconsequentemente e ao descobrirmo-nos
na verdade, tirarmos-a.

Seriamos mais doces, mais vivos,
menos fantoches de nós mesmos...

E eu vejo vidas tão próximas de mim
e tão alheias, que me assusto ao pensar
em entregar meu sorriso verdadeiro,
teço um plano de entrar no jogo predominante,
usar roupas que me pintam de mentiras
tão fantásticas que chego a acreditar
e desabotoar minha alma estancada de amor,
conquistar o mundo com minhas ilusões
e conseguir fazer alguém sonhar alguma realidade...



Fiquem em paz...
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quinta-feira, março 03, 2005

"Vontade de quê?"




Hoje estou com vontade de ser especial
para brilhar mais e mais e fazer
com que me enxerguem, com que escutem
meu barulho, com que acreditem na intensidade dos olhos...

Hoje, para conseguir ser especial
fiz uma arte enorme na minha parede,
para que quando vierem aqui
possam desfrutar de dois deleites...

Hoje acordei querendo ser especial,
uma vontade súbita de falar baixo,
sussurrar nos ouvidos que complementam
olhos ainda mais ricos.

Acordei com uma vontade maluca
de soprar sonhos no seu mundo,
de pincelar fantasias no seu corpo,
de repousar minhas mãos nos seus cabelos
e meus lábios trêmulos no seu rosto indefeso...

Levantei-me repentinamente, feliz, árduo,
contente, abri as janelas e deixei o sol
refletir o meu cristal,
cantei tão alto ao ponto de perder o fôlego,
e te vi me buscando, em meio às suas
atribulações que te atrapalha, e desabei...

Desabei de rir alto até os vizinhos ouvirem
e ri mais alto ainda quando tentaram
comprar minha felicidade com suas palavras de abandono...

Lidei com tanto sentimento,
manejei tanta coisa linda
que descobri em poesia ter triplicado...

Ainda solitário sigo em frente,
mas a descoberta de conseguir alcançar
aquela estrela longínqua e triste
enobrece o cancioneiro, eterniza o poeta
e me faz cada vez mais acreditar no conforto dos seus olhos...


Fiquem em paz...
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domingo, fevereiro 27, 2005

"Volta no tempo"



Outro dia estive defronte
olhos tão fortes e tão imersos
no sonho que desatinei
uma angústia sem lágrimas
em busca de sua atenção e amor.

Redescobri em mim uma sensação
tal de quando conheci as flores,
os cheiros e as cores da vida,
uma mesma sensação única,
uma mesma história gritando
para ser revivido na forma
lírica de toda a minha poesia.

Passei insistentemente tentado
a ouvir sua voz doce,
e nas minhas tantas tentativas
lubridimei-me à fantasia escancarada
de um dia tê-la sussurrando
na minha alegria e carinho
de uma forma tão intensa
que passei a não ter fim...

E a esperança de descobrir a verdade
constrói um recheio dos mais diversos
sabores, constrói o chão adocicado
dos desenhos de fadas e transpõem
a sutileza do nosso abraço que se
encontraram nossos corações a uma
verdadeira e mágica volta no tempo...


Fique em paz...
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quarta-feira, fevereiro 23, 2005

"Acima das nuvens"



Ouço o farfalhar da chuva
e comparo ao farfalhar
do meu intenso aroma
que tanto se perfuma
para amar meu ardente amor.

Ouço a calma e a beleza da noite,
imagino acima das nuvens
minhas companheiras, que sei que agora
escutam a saudade imensa do poeta.

A elas descrevo seus traços,
comento sobre seus arrepios,
tento fazer com que entendam
a magnitude e a resplandecência
dos seus olhos mágicos,
tento desenhar no ar
sua beleza infinita, sempre em vão,
por não conseguirem aceitar tal vislumbre...

Surpreendo-me no silêncio da minha memória,
revivendo um amor tão vivo,
cultivando um sentimento já tão nobre,
acreditando nos caminhos sem fim,
abrindo os braços para que sejamos felizes,
desejando o infinito do nosso altar
de cores transparentes e abundantes,
o altar que nos completa...


Fiquem em paz...
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sábado, fevereiro 19, 2005

"Parabéns"




Juca, parabéns.
Feliz aniversário...

Cara, encontrei hoje com o seu irmão, e ele estava tão parecido com você, ele estava tão parecido com a época em que viajamos juntos, ele estava falando dos cabelos cumpridos e que a Fame não permite.
Ele está dando treinamentos, e te vi dando treinamentos, porque era seu futuro comandar as pessoas ali.
Ele se casou com a Mary, que loucura, ele a viu no hospital, numa visita simples, curriqueira, mas ele viu, e o relembrei de quando ele voltou o carro e perguntou dela. Ele estava tão tranquilo em relação a tudo, a você, que teve cabeça para se preocupar com mulheres.
Eu diria a ele, se fosse o contrário, ele estaria fazendo o mesmo...
Mas acredito que não é preciso, ele sabia.
E sua sobrinha, como sou um relapso, ainda não fui visitá-la. Vi por fotos, tão linda, tão parecida com você, tão igual a sua família.
E sua mãe, foi me assistir no teatro um tempo atrás, tiramos foto, eu ela e a minha mãe. Você não sabe como ficamos orgulhosos daquele dia...
Desculpa Cara, eu tô chorando, eu sei que você pediu pra Cress me pedir para não mais chorar, mas eu me lembro de não ter ido ao seu aniverário, no seu prédio, eu ainda me cobro por isso. Eu sei que é besteira, mas eu me cobro tanto. Na verdade, eu acho que eu errei tão feio, porque eu não fui por preguiça. Eu estava com muito sono aquele dia, eu estava muito cansado. Mas cansado do que, Meu Deus, era o seu último aniversário, como eu pude ter preguiça no seu último aniversário, como, como, como?????
Desculpe-me, eu me jurei depois daquele dia que eu seria outro homem.
Hoje faço tantas coisas, te provei que consegui, mas eu trocaria tudo, voltaria a ser o mesmo preguiçoso para te ter de volta, para escutar sua voz, só mais uma vez, uma vezinha só, sua risada, seus sonhos tão lindos e tão simples de se realizar.
Hoje eu te daria um presente, um abraço, encheríamos a lata, sei lá o que faríamos, mas hoje você tem novos amigos...
E como eles são? São bons com você? Você se diverte, você saem, têm anjinhas tão lindas quanto a Tica, você pode falar palavrão? Deus deixa? Ai, se ele não deixar, vou fazer tanta zorra na terra que ele há-de deixar. Eu queria tanto que você pudesse voar até aqui, mesmo que por uma hora, pra conversarmos, para eu te contar como andam as coisas, como está de pernas pro ar a minha vida...
Juquinha, não consigo mais escrever, meu rosto dói demais, nunca mais tinha chorado, desculpe quebrar o seu pedido, mas hoje foi preciso, hoje é o seu aniversário, o meu foi tão feliz. Só faltou você para me realizar...
Parabéns Juquinha, e parabéns a Deus por ter feito uma alma tão boa...
Obrigado por ter cedido um pouco da sua magnitude a nós, pobres mortais...
Desculpe chorar tanto, desculpe mesmo, não consigo, mesmo respirando fundo...


Fique em paz amigo, fique em paz...
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quinta-feira, fevereiro 17, 2005

"Gosto muito"



Gosto mesmo é de virar página,
viver amor platônico,
ouvir boa música e apreciar
a tenacidade de um bom vinho.

Gosto mesmo é de enxergar
o que as grandes pessoas não vêem...

Gosto mesmo é de sentir
a voracidade do impulso poético
e, em meio às lágrimas,
decifrar letras e transformá-las em poesia...


Fiquem em paz...
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sexta-feira, fevereiro 11, 2005

"Sociedade dos poetas falsos"



Sou escorpião, descarado, louco, problemático, intenso, pobre, poeta, linguarudo, falador e desrespeitaria minha mãe se fosse preciso.

Sou enfático, manipulador, sedento, tarado, multiplo de números impares, disparo contra o sol, sou forte, sou por acaso, mas minha metralhadora espalha mentiras e chagas de uma vida recheada de mágoas.

Eu não sou o cara, sou muitos caras, todos gente fina, bêbados, hipócritas, manipuladores de opiniões, e um monte de poetas, tudo junto.

Sou ascendente em peixes, sou sensível para as artes, sou inteligente para a comoção, sou lúgubre nas minhas tpms dominicais, sou terrivel contra os insetos, sou odiado pelas mulheres que me amam desesperadamente, sou o desprezo que gostaria de ser desde criança, sou de repente desde que conheci a palavra orfão, desisti de perder naquele momento, desisti de ter também, desisti de fazer acontecer o certo, me entreguei ao submundo, ao etéreo visto apenas pelos trancafiados, pelos malogrados de inanição.

Sou lua em peixes, tenho medo até do meu medo, tenho asfixia de ter alguem ao meu lado, tenho repulsa de todos que se aproximam, tenho desdém pela lua inalcançavel, pelas estrelas infinitas do meu céu ainda sem estrelas, tenho loucura pelo sol que me incomoda, tenho admiração pelo meu quarto, pelo castelo que construo dentro de mim, pelos corredores que se tornam meus labirintos prediletos, meus tantos caminhos usuais, frios, lindos, requintados com predras tão brilhantes e tão pegadas nas paredes infinitas do meu infinito.

Sou perdido, rodo o mundo das escrituras para encontrar-me, rodo o mundo em aviões, flats, navios para encontrar-te e somente o nevoeiro me compensa, somente o árduo me compete, somente a sina de um pobre perdedor do mundo da poesia se encontra em mim.

Sou esquizofrenico, porque sou milhares, por ser mentiroso, por mentir a mim mesmo, por mentir a Deus que olha cada fio de cabelo que se mexe na minha cabeça brilhante.

Sou Maquiavel, Rembrandt, Aristóteles, Camus, Autran, Pessoa, Homero, William, Buarque, Moraes, Tyler, Telles, Meirelles, Marquez, Lorca, Hesse, Alves, Lobos, Assis, Gogh, Lautrec, Kafka, Xavier, Sófocles, Queirós, Goya, Einstein, Neves...



Fiquem em paz...
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quinta-feira, fevereiro 10, 2005

"Esclareça-me?"



Onde me leva minha indecencia, corroendo minha visão do que se pode estar certo e do que se pode fazer?

Onde encontro minha vitória, no peito amargo do medo e da desilusão passageira?
E onde se escondem meus odores?
Aí, aqui, no nosso único desejo esfarrapado de sentirmo-nos esfarrapados perante o certo, perante o esbelto?

E se pudéssemos correr e atropelar toda essa gente que se entrega da forma mais suja, - intitulando-a como amor ainda por cima - , faríamos deles nosso pó de cada dia, nossa fumaça de cada hora, nosso temor de sermos sujeitados ao ridiculo das frases lindas de saudades?

E te chamo para vir numa angústia cega da minha tropa cega que vive o mundo cego e doente de homens cegos, homens que me põe nojo pelo medo, pelo desejo frívolo de cada instante que se tornam eternos, pela degradação de cada rastejar, de todo esse cortejo que me olha com olhos sedentos e lassos e que eu odeio, essa multidão que nao me entrega a paz, não me deixam vencer para fugir, e me sepultam dentro das minhas palavras, dentro das minhas farsas imundas, beatificadas por lucifer, santificadas pelos anjos terroristas da terra, politizadas pelos santos de alma limpa que vemos todos os dias na tv, anjos que nos faz sorrir e clamamos em uníssono, amém!



Fiquem em paz...
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quarta-feira, fevereiro 09, 2005

"Gostaria?"



Gostaria de escrever o poema mais lindo,
roubar a flor mais viva,
entardecer o dia para o meu amor
ver o pôr do sol mais cedo.

Gostaria de eternizar todos os meus sentimentos,
todas as minhas sensações transformadas
em música, para que o meu amor
se transborde de alegria e luz.

Gostaria de contracenar uma peça romântica antiga,
dos tempos em que ainda se havia o respeito pelas mulheres,
para que ela compreenda que sou puro
e que a amo como alma e pensamento.

Gostaria de capturar todas as estrelas
que existem nesse céu que a redesenha,
guardá-las numa caixinha toda enfeitada
e feita por mim e dá-la de presente
em um dia comum, para retribuir sua presença
que me é um presente em todos os dias comuns.

Gostaria de pedir a Deus para que resolva
todos os seus anseios e problemas,
que a ilumine ainda mais,
pois sua luz me é poesia,
traz-me grandeza e meu sentido de ser.

Gostaria de dar a ela esse meu dom imenso,
para ver se assim ela consiga falar,
consiga se expressar e pare de me fazer sofrer
por causa da sua injusta melancolia.

Gostaria que ela saisse mais cedo do trabalho,
por estar num dia um pouco mais calmo
só para vir me ver, sentir meu abraço
e dizer no meu ouvido que sentia saudades.

Na realidade, gostaria que ela sentisse saudades...

Gostaria de ter um quintal um pouco maior,
para quebrar alguns azulejos e plantar
rosas e margaridas e tulipas,
para todos os dias presenteá-la com cores diferentes.

Gostaria de poder dormir abraçado com ela,
trazer seu café na cama,
tirar seu pijama para ensaboar suas costas,
fazer amor a qualquer hora e em qualquer lugar,
conhecer melhor seus amigos,
tornar-me mais presente na sua família,
ir para o Espírito Santo, Machu Pichu, Paris,
conhecer cada cidade entre os caminhos
para perguntar sobre as lendas,
escrever um livro imenso e publicá-lo dedicando-o a ela,
viver os meus sonhos em forma de realidade...


Fiquem em paz...
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sexta-feira, fevereiro 04, 2005

"Hoje eu vi"




Hoje eu vi a coisa mais linda desse mundo,
a luz mais verdadeira,
o sintoma mais real,
a verdade mais completa,
a dança mais lirica,
o sonho mais vívido,
o infinito mais possível,
as curvas mais intensas,
o brilho mais incessante,
a vida que me completa,
o tudo que me desaba,
o sorriso que demonstra,
a voz de coelhinho,
os cabelos louquinhos,
os cachinhos esfumaçantes,
a alegria mais púrpura,
o carisma mais perfeito,
a mulher da minha vida...

Hoje eu senti a coisa mais consciente da minha vida,
vi o futuro,
vi a velhice,
vi meus filhos,
vi o que quero,
vi o que sempre quis,
vi o que espero,
vi e senti o que nasceu para mim,
minha alma gêmea,
revi,
vivi tudo o que não posso viver,
senti tudo o que me machuca sentir...


Fiquem em paz...
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"Detalhes"



Sentimos cada detalhe desta pintura,
escolhemos minuciosamente cada concha a olhar,
cada coração a admirar,
cada centímetro de vida se tornando a eternidade...

viemos por caminhos distintos
que a mãe natureza obrigou-se a unir,
destilou nossas idéias no calmo do paraíso
e hoje nos tornou um só...

Passaremos esta, e a certeza das tantas outras
orgulha o poeta hoje muito feliz,
o mesmo poeta que deseja
mais um ciclo repleto de sonhos e fantasias,
mais um ciclo de amor e completicidade,
mais um ciclo que nos torna hoje eternos...

23:25h - 31/12/04


Fiquem em paz...
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quarta-feira, fevereiro 02, 2005

"Sinestesia"



E se hoje pudéssemos falar?

Teríamos coragem de dizer sobre nojo, desejo,
raiva, fúria, amor ou margaridas?

Teríamos fôlego para nos declararmos
e percebermos e hipocrisia das nossas palavras?

Teríamos coragem de trocar nada
por qualquer coisa, assim como hoje fazemos?

Teríamos escrúpulos para sentirmos prazer
usando a fragilidade sentimental das frases poéticas?

Teríamos estomago para mentir,
mesmo podendo falar e ser compreendido?

Teríamos desejo de desejar o desejo alheio
por pura curiosidade que massageia?

Teríamos coragem de ter coragem?

E se hoje posso falar, me pergunto se falaria...

E meu vácuo silencioso responde meus devaneios...



Fiquem em paz...
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sexta-feira, janeiro 28, 2005

"Por uma noite"



Quando tudo parece estar escuro
eis que me surge uma poesia
tão bela quanto olhos muito brilhantes
e intensos, que custo a acreditar...

Às vezes cremos nos nossos olhares,
mesmo quando pelos recônditos mais sinuosos
parece-nos incabível, e percebemos que todo passado.
que todo aprendizado trouxe-nos
apenas bagagem necessária para vermos
em meio à multidão,
vermos onde tornara-se quase impossível
vermos com a alma...

Descubro semelhanças absurdas,
digo palavras em uníssono com seus pensamentos,
fantasio nossa estadia na nuvem mais linda
e aconchegante, semeio na força dos seus olhos
a curiosidade, mesmo o destino tentando
de todas as formas separar esse encontro
marcado há muito, descobrimos no nosso silêncio
a nossa cumplicidade, descobrimos na nossa
espera a nossa verdade, descobrimos
na nossa verdade tudo aquilo
que nos faz feliz e felizes descobrimos
que nosso olhar foi feito um para o outro,
por uma noite, por um sonho, por uma vida...


Fiquem em paz...
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segunda-feira, janeiro 24, 2005

"Sozinho quando não se está sozinho"



Sem compreensão, sem vida própria me alastro pelo infinito e a solidão vaga pela noite escura em que tento brilhar em vão, redescubro num longinquo martírio a minha derrota, peço e robusto sigo em frente, calado, tentando me mudar para onde não vou, tentando-me a ser o que odiaria, e desisto no vai e volta do meu volúvel sentimento, pergunto-me por que tenho que viver o que não possuo, perdendo-me da verdadeira luz que há muito se apagou, a luz cega que cansou, a irradiação trêmula que não mais existe, a configuração perfeita no silêncio, o trauma completo no acaso, a vida perdida na união, o desfecho da minha perdida guerra lutada há anos, com seus anos de infinitas e consequentes derrotas, e no meu campo de batalha desconfiguro a estiagem, ergo a taça de campeão do meu mundo opaco e sorrio meu ódio pelas palavras que incontroláveis jorram dos meus olhos, que machucam meus lábios, que acariciam meu coração absoluto e único, que me deixam divagando na solidão, sozinho quando não se está sozinho...


Fiquem em paz...
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terça-feira, janeiro 18, 2005

"Franqueza"



Eu sou fraco
porque tem que se ser fraco
para aceitar as pessoas e a vida.
Não fraco de ideais e objetivos,
fraco de injustiças e de mal entendidos,
de ciúmes e de palavras ruins e feias e duras,
palavras que afujentam o amor que eu não tenho...


Fiquem em paz...
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sexta-feira, janeiro 14, 2005

"Tenho em segredo"



Tenho guardado em segredo
tantos sonhos que me confundem
os caminhos, que me transmitem a paz,
que me seduzem e desafiam o sempre...

Tenho resguardado dos meus antepassados
tanta alquimia que tropeço
nos meus tropeços múltiplos,
e me perco tentando ser eu...

Tenho admirado virtudes e atitudes
que me cegam e ostentam
a mais plena amizade,
o mais lirico amor,
o sentimento que domina o pobre poeta...

Deságuo num mar de pétalas coloridas,
desatino minhas lágrimas alegres
na montanha do seu calor,
desmancho-me nas loucuras dos seus dedos
e delicio-me no requinte maravilhoso dos seus beijos...


Fiquem em paz...
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segunda-feira, janeiro 10, 2005

"Novo e para sempre"



Quando de longe te olho, ainda chegando para você
meu rosto fica vermelho, começo a suar,
a pingar e transbordar por dentro sentindo
a energia que explode dos nossos corpos.

Reviro-me, começo a sentir um comichão incontrolável
em busca do seu corpo delicioso,
em busca da sua boca magnífica,
em busca de você que me completa...

Então, começamos a nos beijar e nos abraçar,
nossa temperatura esquenta, eu começo a sentir
minhas mãos rondarem cada parte sua involuntariamente,
começam a descer a aba da sua blusa
para que eu possa beijar seus ombros
que me levam a loucura e nosso desejo
um pelo outro torna-se frenético,
um suspirando seus gemidos ao outro como confissão,
o calor estonteante nos penetrando por todos os poros,
nosso suor se misturando, unindo-se a nossa alma única,
e quando percebo já estou com minha língua descobrindo
cada pedaço da sua beleza, deixando-nos alucinados pelo amor
sem fim que está por vir, até estarmos sôfregos, então
penetro meu corpo na sua alma como a fantasia
penetra os sonhos, e deliramos nos nossos movimentos
lascitantes, ritmados, feitos para serem assim perfeitos,
e explodimos o ápice da nossa conquista,
gozamos da vida gozando da vida,
e entrelaçamos nossas pernas com os lençóis,
você com sua cabeça no meu peito e dormimos
a espera do nosso novo e para sempre único momento...


Fiquem em paz...
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