segunda-feira, abril 26, 2004

“O nada em contravenção”



Eu sou o nada, e luto com minhas palavras para entender o que é ser o nada
eu sou execrável, pois sou capaz de me amar e me odiar ao mesmo tempo
eu sou a oitava maravilha do mundo, pois consigo me amar e me odiar assim como consigo me amar ao me odiar
eu sou o resplandecer das trevas, pois sou capaz de escrever e me arrepender da linha escrita assim como sou capaz de me orgulhar pelo não dito em palavras,
tal como ganho a vida
sem que simplesmente abra os olhos
que fingem ser poderosos
mas que sempre caem na mesma história infante, se engana sempre pela mesma percepção
esdrúxula e desvirtuada, assim como desvirtuo minha mente com o céptico olhar,
assim como alucino minhas pernas em vão sempre que viajo por estas estradas,
estradas com seus espinhos me ferindo,
uma estrada imagética,
acho que é a estrada que se encontra defronte o portal do meu sinistro castelo...
Castelo que está opaco, perdendo o seu irreal brilho...
Castelo onde estou encostando nos cantos,
encostado às traças como velhos em carne fresca,
lisonjeado com a solidão que me cerca
denegrindo-me pelo ter que compreender,
declarando-me ao mais simples lapso
de inconsciência
e não me arrependendo
não me machucando, e muito menos me
martirizando
Ouvindo a todos e só dando a razão ao meu ouvir
interior
exterior
interplanetário
que dita de longe as regras
que me faz crer como um dia cri em
espíritos
que voam
que dançam
que tem armaduras e pompas
especiais
que vão a minha casa
e cozinham na mesma,
sem piedade,
dó,
com frieza,
não vendo que do lado de cá eu estou emocionado
fraco
intenso
desprovido
amando
sofrendo
agradando
mutilando
e tudo isso de uma só vez
tudo isso de uma só tacada
desgarrando as lacunas que compõem
o sonho sem fronteiras
sem barreiras e sem limites
fazendo do péssimo transição
fazendo do ótimo oposição
pois entendo o que dizes
entendo o que falas
entendo quando me proteges
e entendo que foges por mim
angustia-se pelos meus imagéticos desenhos
pelo medo do desconhecido
que ocorrerá a mim somente
quais serão as conseqüências
- com medo estás -
quais as conseqüências
- roendo-se estás -
o que será dele
- preocupada estás -
o que ele fará no futuro
- curiosa estás -
o que sentirei daqui a anos
quantos textos mais separar-me-ão do ócio
quantos equinócios vernais terão de distância
quantas epopéias vibrarão pela minha morte
quantos enterros mais terei que chorar
quantos amigos mais terei que me separar
de quantos mais terei que me separar
quanto mais terei que sofrer
e ir ao teatro só
quanto mais escreverei e acharei
que banal me tornei
quanto mais direi quanto mais
e quanto mais ditarei essas hipérboles
de quanto mais
de quanto mais
e digo ainda
quanto mais terei que me superar
se a superação percebo
não ser suportada
por estar ela exacerbada
por estar a empolgação cega
pois nunca deixei de estar cego
nunca deixei de não amar
nunca deixei de me privar
e sempre estive às escuras
atirando e lutando
contra mim
contra Deus
contra o Inferno
que bate a todo momento à nossa porta
às nossas janelas
que,
de quando em quando,
bate em nossos portais imaginários
e luto arduamente para que vá embora
pois estou cego
implorando por mim mesmo
criando histórias
fábulas que se tornariam inesquecíveis
como sonhávamos que seria...
Inexeqüível esquecimento banal
inesquecível prosear esdrúxulo
infundado
onde não preciso - sei disso - escrever mais
parábolas
já foram suficientes
pra você que mora ali
acolá
defronte meus julgamentos
pois eu não tenho fim
eu não tenho histórias
pois histórias sem fim acabam sempre acabando
com uma reticências
com uma rima
com um novo início
com um ano novo
com um carnaval, quem sabe,
com uma nova vida
com um novo estilo
musical
literário
egocêntrico e prepotente
criando armadilhas e barreiras
para a minha boneca transcendental
julgadora e não
fechada
com regras
com julgamentos predefinidos
do que é julgar...
Se julgo como minha figura
nunca julgaria,
é porque ela tem medo de julgar
ela tem medo de mim
pois a minha verdade sempre foi a única
é o que ela pensa disso, mesmo
mal sabendo do que pensa
mas pensa, e pensa vociferado ao ínfimo infinito
que ditará meu futuro
que ditará meus casórios
que ditará minhas separações
pois me casarei, isso eu sei,
farei filhos
mas não serei completo
completarei meus sonhos paternos
mas nunca poderei olhar para os lados
e ver a alternativa correta
pois minha mente está oscura
minhas papilas estão sedentas
como meus desejos estão dissonantes
as partituras rasgo eu
a música toco eu
o teatro contracenarei eu
mas o amor não viverei eu
a solução não viverei eu
a alegria não sentirei eu
pois ela foge
ela é uma montanha russa
das norte-americanas por serem maiores
mais ríspidas
mais frias
mais distantes
tão distantes quanto eu estou
tão tristes quanto eu me encontro
querendo tentar e não conseguindo querer
tentando querer e não conseguindo tentar
repetindo os erros
para participar de mim mesmo
escrevendo compulsivamente para me enobrecer
para um livro poder um dia escrever
quebrando as linhas para que possas entender
vendendo-me para a mim compreender
arrependendo-me para comigo viver
e saltando das montanhas para a mim
me oferecer...
Quantas linhas poderão ser escritas
quantos erros proferidos
mas sempre a certeza
de quantos amores
irreais
podem e são perdidos...
Quantos versos posso fazer
pois minha mente não consegue ler
nem para não poder
nunca este dom perder
Agora dito regras
para o fim da canção acontecer
mas para sempre nunca deixarei
de com meus amores enobrecer...


Fiquem em paz...
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