segunda-feira, março 07, 2005

"Sonho realidades"




Você, por que se encontra tão longe das artes?

Você, que faz da sua realidade o meu sonho,
por que está tão distante e frigida
para com o poeta que veio te resgatar
de outra vida para que viva?

Você, que tem amor e ódio,
que está desiludida em meio a chuva,
que grita nesse silêncio absoluto dos seus olhos
por que faz isso contigo, menosprezando-me?

Você, que é fechada (mas tem luz),
que é ríspida (mas é doce),
não te envergonhas dos seus atos insólitos?

Você, que é encandescente à minha arte,
não se sente tocada pela fantasia?

Una-se!

Ou tens medo?

De mim ou do seu tesão?

Medo de ser desvairada por um desvairado múltiplo?

Quero deleitar-me com que me é de direito,
deleitar-me com o que nasceu para mim,
como hoje recobrando a memoria me deleito...

Evoco Deuses como quem sente saudade
de amor perdido e que ainda é doído
e os reverencio pela obra poética
que implantaram nas minhas viagens
e loucuras tão sãs do meu cotidiano.

Olho mil retratos por minuto e todos
se transformam nos seus traços,
nas flores que te vestem tão serenamente,
no cheiro que me recolhe do mundo
e que te dôo com exclusividade...

Redesenho seus ombros que me arrepiaram
e me questiono sobre tantos sentidos,
tantos loucos que vivo e tantos
que deixo de compreender sem razão de ser.

Olho para a vida e me seduzo
como quem quando criança se seduz
pelo doce proibido pelos adultos
e ne vejo tal quais chorando,
tentando frenéticamente fazer barulho
e chamar a atenção, mas a mim
o doce sempre vem em forma de materialização,
sempre se evapora ao meu toque suave...

E eu me vejo em fotos do passado
e pergunto-me: será que era feliz?

Não me lembro, pois eu sou uma transição
entre o absoluto que sou e o espaço
vazio que sopu na lembrança desfocada.

À tudo me desfoco, nem ao menos
tento compreender em meio a tanto
alvoroço, e tão em silêncio...

Sinto-me cansado de ser o que sou,
mesmo colhendo frutos tão mágicos,
mesmo tendo as mais expressíveis imagens
do amor e das artes, torno-me circunspecto
em relação aos verdadeiros dotes da vida,
porque a vida é o sonho que eu sonho
e não essa poesia que eu vivo...

Abstrato?

Talvez, para corresponder às tantas máscaras
que me obrigam a usar...

Todos deveríamos comprar uma máscara
de festas e fazermos tudo isso que fazemos
inconsequentemente e ao descobrirmo-nos
na verdade, tirarmos-a.

Seriamos mais doces, mais vivos,
menos fantoches de nós mesmos...

E eu vejo vidas tão próximas de mim
e tão alheias, que me assusto ao pensar
em entregar meu sorriso verdadeiro,
teço um plano de entrar no jogo predominante,
usar roupas que me pintam de mentiras
tão fantásticas que chego a acreditar
e desabotoar minha alma estancada de amor,
conquistar o mundo com minhas ilusões
e conseguir fazer alguém sonhar alguma realidade...



Fiquem em paz...
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