quinta-feira, novembro 06, 2003

"Sentido dos olhos"



Olhos...
Por que imprimem tal magnitude
dentro dos meus sintomas pensantes?

Creio que seja pela forma labiríntica que se mostram a mim,
ou pela forma sinuosa e eloqüente,
ou pelo ardiloso exaspero de suas aparições.

A cada andança minha,
descubro novos olhos e olhares,
muitos deles me enojam
muitos me apaixonam
e muitos se apaixonam;
vejo isso tudo de uma forma
cíclica para reverenciarmos os nossos gostos pessoais.

Perguntam-me qual a minha parte predileta em uma mulher?

E eu sequer pisquei e imaginei os olhos...

Olhos doces, sutis, reais, urbanos, latinos, europeus,
cínicos, detalhistas, distantes, abusivos, cintilantes,
apaixonantes, vibrantes, inspirantes, persuasivos...

Cada qual com suas características únicas,
envolvendo-me com seu profundo e lascivo jogo,
com suas peripécias,
com suas dificuldades.

Mostram-me um mundo novo a cada olhar,
mostram-me o silêncio do conhecimento,
a ternura do amor,
o fervor da paixão,
deixa-me sempre ébrio por tanto sentir,
por tanto querer decifrar algo místico,
indecifrável,
algo que corresponde à descoberta do santo Graal,
da história da humanidade descrita pelas palavras subliminares,
pelo seu pouso manso e sutil.

Olhos...
marejados pela saudade,
delirantes pelo tesão efervescendo internamente;
tudo isso encanta o pobre transeunte e poeta,
que mal muda o campo imaginário
e já se encontra entretido por outro olhar,
descobre que aquele perdurou um segundo apenas em sua eternidade pessoal,
mas foi o suficiente,
bastou para ensinar-lhe uma nova visão da vida,
ensinou-lhe outro caminho para recomeçar àquela sua antiga poesia,
ditou-lhe uma nova regra,
um novo predicado para antigos significados,
uma nova arma para desmistificar a antiga solidão,
e uma nova palavra brota em seu peito a cada nova magia,
a cada nova visualização corpórea do interior pleno
de alguém que não existe,
de alguém que se resumiu, naquele instante,
a um par de olhos,
a um par de sentimentos,
a um par de sinceridades,
a um par de lutas internas, e brigas cotidianas,
e passado e presente estático e futuro enegrecido
pelas tantas e tantas dúvidas inexistenciais,
de tempos remotos, que ainda põem em dúvida o hoje,
o sempre,
o agora,
e em súplica regurgita seu silêncio,
o seu olhar seco e místico,
e transcende o pobre poeta, nesse único segundo encantador,
para mais uma deliciosa história de amor,
que ficará para sempre eternizada
pelos rabiscos singelos de seus papéis...

Fiquem em paz...
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