domingo, novembro 21, 2004

"Deserto particular"




Olho para defronte do meu deserto particular
e sinto novamente as dores tão mal acostumadas
escorrendo como sangue pela vida do poeta insône.

Revivo cada palavra,
compreendo cada ato,
imortalizo tantos inúteis sentimentos
que berro sozinho no silêncio do meu quarto sem fronteiras...

Sinto-me de um lugar tão longínquo,
como se vivesse a partir da perda da memória,
sem precedentes, tampouco destinos,
perambulando nos preâmbulos da noite
enxarcada de solidão e vinho,
esperando o resgate, esperando a vitória inexistente,
esperando um consolo amigo,
uma vida coerente,
uma palavra apenas verdadeira...

Choro repentinamente escutando a chuva,
ligo o chuveiro para tentar limpar o que tanto incomoda
descobrindo que tenho medo da purificação,
de ser fiel, de merecer,
medo do tudo que me quer e me torna incapaz...

Revivo então cada palavra,
compreendo cada ato
e me humilho na hipocrisia
da minha mesma prisão desde a infância...


Fique em paz...
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