"Dessa vez?"
Hoje chove, é mais que noite dentro de mim
e transeunte comum que sou me desfaço
para compreender o caos em que sobrevivo...
Tenho vontades incríveis, de parar o mundo,
de sussurrar minhas verdades, regurgitar
verdades ilusionárias de poesia,
vontade de urdir do fundo do asfalto
as raízes que nos enredam e definir
o ritmo, a rima, a paixão para com tudo
que é tão falso e que calados acreditamos.
Paro, remoendo meus medos, revigorando minha antiga paz,
restrito, reparo em cada detalhe lindo como um defeito,
absurdo, trituro tudo o que construo como quem ama,
desesperado, enloqueço em busca de uma forma,
de uma flor em terras que sofrem guerra.
Mas mesmo assim permito-me reparar em tanta coisa,
vejo-me tão abençoado e tão ardil,
sugo um mundo que me odeia,
encosto em um personagem que não me sabe,
que não me desconfia do que sou,
e escrevo, escrevo, sempre pensando num único tema,
sempre tendo um único sentir interior,
sempre o longínquo de mãos dadas com o efêmero que sou,
e me distribuo em tantos que passo a ser um,
desvencilho-me de mim para ser herói
de uma vida sem ambições ou magias,
e me perco sem esperar nada em troca,
para ver se me reencontro...
Fiquem em paz...
............................................