terça-feira, maio 25, 2004

“Sinto uma intensa vontade de suicídio”



Tenho fascínio pelo momento a vir.
estou cada vez mais desapegado a esse mundo
quero ver a baixeza em todos os atos
quero ver a vileza em todos os sentimentos
quero ver a degradação de todas as hipóteses
quero ver negras todas as lagrimas
quero ver a infâmia se apoderando da vida
quero todas as carapuças desarmadas.

Quero que todos os meus absurdos sejam condenados
e comparados com todos os absurdos humanos
quero ser o mais humano dos pecadores
quero ser o mais infiel dos homens
quero transgredir as regras e desafiar os Deuses
quero morrer sorrindo pela minha tristeza infinita
vivida nesta podridão que me arrasto
quero pedir clemência diretamente ao chefe do barraco
quero enegrecer minha visão
cegar-me para ver se finalmente me realizarei
cegar-me para enxergar a verdade
que não me existe, que não me acompanha, tenho que admitir
empobrece-me a vida senti-la
empobrece-me o sentimento amar nesse mundo sujo
empobrece-me a lentidão com que evoluo pela falta de evolução alheia
empobrece-me perder meus sonhos pelo ceticismo
encubro-me de falsos personagens,
encubro-me para encobrir-me de mim mesmo
grito uma fúria cretina, de quem ao menos consegue balbuciar
escrevo temas que servem como apelo desesperado ao abandono
conheço das artes a violência
conheço da vida a mentira
conheço do amor a exclusão
reconheço na realidade a minha única saída
o breve suicídio das minhas infinitas palavras e poesias...

André Neves

Tenho fascínio pelo momento a vir. (Vinicius de Moraes)

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domingo, maio 16, 2004

“Vôo noturno”



Sou extremamente equilibrado
no meu desequilíbrio.

Sou plenamente ponderado
no meu descontentamento.

Sou extremamente realista
no mundo onde sonho.

Sou meramente feliz
nas projeções onde vivo.

E para conseguir me entender
terá que subir na garupa da fantasia,
deixar para trás as regras e preceitos
e viajar comigo num vôo sem rumos,
mas com destino à felicidade.


Fiquem em paz...
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domingo, maio 02, 2004

“Não quero mais”




Hoje não quero ter fisionomia,
nem cheiro nem sabor, tampouco alegrias...

Hoje não quero sentir solidão,
não quero me enganar pelo desejo
inexistente da minha própria inexistência,
não quero fingir o que já sou sozinho...

Não quero rever meus antigos passos,
ressuscitar velhos paradigmas,
transcender velhos ideais,
reconhecer o erro das novas escolhas...

Não quero nada além do infinito,
e que ele se espalhe com música
pelos meus cantos hoje desconhecidos,
hoje desencantados pelo brilho de olho algum...

Não quero prender-me na minha própria inconsistência.
Não quero preencher-me de tudo que não me completa.
Não quero determinar as regras de um jogo de tabuleiro vazio.
Não quero gritar aos surdos minhas migalhas.
Não quero entender nem me tornar crível.
Não quero deixar de querer algo que nunca quis.
Não quero me abalar por isso, e com isso fortalecer
as únicas armadilhas que eu mesmo cismo em impor.

Não entendo meus pensamentos, não entendo minha euforia,
não entendo minhas vontades, minhas fugas desesperadas
de mim mesmo e que acabam sempre se encontrando
pelos recônditos inevitáveis das minhas dúvidas
e revoltantes faltas de respostas...

Não suporto mais me enganar com tudo que finjo que sinto,
não agüento mais o peso das minhas palavras,
não tolero mais essa indulgência com minha perseguição
a uma perfeição que em tudo consegui hoje fracassar
pelo reflexo irracional da insatisfação dos erros que cético
percorro meus dias cometendo...

Não agüento mais me controlar,
não agüento mais minha própria incompreensão...



Fiquem em paz...
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sábado, maio 01, 2004

"Receba com carinho"



Oh! Sons e luzes que ruborizam os meus sonhos,
receba pelos ares o meu chamado
e venha até aqui sentir o calor do meu abraço.

Em cada volta pelo mundo,
em cada suspiro meu,
exalo um pouco de sensibilidade
que proferes como música
com seu canto apaixonante...

Doce devaneio,
multiplicai-me as línguas
para que eu possa ter mais opções
que eternizem seu brilho.

Dê-me mais da sua presença
e permaneça-me sempre
essa loucura de inspiração.

Faça-me, com seu beijo lascivo,
escrever poéticamente um terceto,
uma ode ou quem sabe um livro de sonetos.

Tome qualquer atitude,
só não deixe de habitar
essa morada que construi
exclusivamente para você no meu coração...


Fiquem em paz...
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