domingo, novembro 28, 2004

"Testemunho"




Se hoje eu estivesse para morrer,
no meu testemunho constaria alguns
atos de algumas pessoas de grande valia
no eu que sou hoje.

A uma diria que a amo
por me fazer enxergar com clareza
o quão importante é a honestidade,
tanto pelos atos quanto pelas palavras,
e o quão dignos nos tornamos
perante a nós mesmos e a Deus e aos anjos,
e também o quanto estamos acima
de qualquer coisa material e maquinada,
e que o sentimento amigo perdura sob qualquer
circunstância, certas ou não.

A outra diria que a amo
por ter me feito acreditar em todos os sonhos,
mesmos nos que eu pensava não existir nenhuma luz
e que hoje são mais do que uma realidade,
e agradeceria por toda a franqueza,
mesmo vendo lágrimas mal postas
na minha face, agradeceria por ter visto
além e acreditado, mesmo com a minha
própria crença desfacelada e abandonada.

A outra diria que a amo
por me mostrar a linha tão tênue
entre o amor e o ódio, a linha
tão tênue entre o que se deve fazer
e o que se deve esconder de todos e de si
e agradeceria por ter estado ao meu lado
em todos os momentos, até mesmo quando
eu não estava do seu, atitude até hoje incompreensível.

A outra diria que a amo
por ter me apresentado ao amor,
por ter me apresentado à poesia,
por ter acendido a luz do meu até então
obscuro mundo paralelo e me feito
enxergar que sempre vivi ali,
e agradeceria por ter me ensinado
a olhar a lua, a reparar nos detalhes,
a ser infinito, intenso, leal, ser sempre "sempre".

A outra diria que a amo
por me fazer sempre enxergar
que o sorriso é a alma do negócio
e meus agradecimentos assim se completam
por dela ter apenas a imagem mágica
de um sorriso perfeito como o seu,
sempre alegre até nos momentos difíceis,
sempre intensos, até nos momentos mais simples,
e isso é tudo o que se pode desejar.

A minha mãe diria que a amo
por ter me dado a oportunidade
de ser um reflexo dela como num espelho,
extinguindo qualquer forma de agradecimento
devido a tamanha perfeição, que palavras
não se completariam jamais.

A minha irmã diria que a amo
por ter me dado a vida toda a alegria,
o carisma e o impacto da comunicação,
e a agradeço por ter me ajudado a construir
o meu mundo de hoje, mesmo não sabendo disso.

Aos meus dois pais diria que os amo pois,
um cedeu a semente, plantou-a
com todos os carinhos possíveis e esperou
ainda para ver o broto florescer e concedeu
ao outro a oportunidade de regar, de moldar
e ensinar os melhores caminhos da virtude,
para deixar a música florescer,
para construir uma família,
e a eles agradeço a tudo isso.

A todas as outras pessoas que estão na minha vida
agradeço a amizade verdadeira,
a opinião, o carinho, a tudo que inexistindo
faria com que eu não conseguisse ser o que sou.

Hoje, a esses lindos olhos de lua,
agradeceria por me fazer ver o outro lado da rua,
o outro lado do sonho, o outro lado do saber,
agradeceria sua loucura tão sensata que por vezes
torna-se inconcebível de se conceber.

E a Deus digo que o amo
por ter me colocado na minha vida
pessoas e situações tão completas
e mágicas, por ter me dado a
oportunidade de olhar, ver e absorver
a grandeza e os detalhes das pessoas,
e o agradeço por ter me feito
exatamente com esses defeitos corrigíveis,
exatamente com essas qualidades
que eu mesmo admiro em mim,
por ter me feito sensível e feliz e tão artista,
e ao mesmo tempo por ter me feito
um pouco amargo para poder ser assim...

Poeta...


Fiquem em paz...
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terça-feira, novembro 23, 2004

"Poeta sem fim"



Começo a escrever sem fim,
para ver se reencontro-me em algum lugar,
mesmo distante, para ver se consigo
enxergar, mesmo o distante, para ver
se toco novamente o amor, sempre distante...

Transformaria minha poesia em sentimentos
se assim pudesse concebê-la,
se assim pudesse honrá-la
como honro a tudo (com afinco) que não me completa.

Transmutaria o destino que momentaneamente
sorri para mim, moldaria meu rosto
para as futuras recepções e tornaria
bem mais simples meus anseios, meus medos,
minhas alusões que me tornam incapaz de ser capaz...

Canso-me - admito - de bater tanto na mesma tecla,
canso-me de estar sempre cansado para com tudo
que deveria, pela lógica da vida, me fazer feliz,
desgasto-me bolando os mais absurdos planos
que facilmente seriam resolvidos na simplicidade
que felizmente não habita no meu dia-a-dia.

Sou poeta, não tenho medo de desbravar,
tenho medo de sorrir sem medo,
tenho medo de amar sem amor,
tenho medo de ficar sem você,
que tanto me conquista,
que tanto me ilumina,
que tanto me seduz na paz do seu sorriso...


Fiquem em paz...
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domingo, novembro 21, 2004

"Deserto particular"




Olho para defronte do meu deserto particular
e sinto novamente as dores tão mal acostumadas
escorrendo como sangue pela vida do poeta insône.

Revivo cada palavra,
compreendo cada ato,
imortalizo tantos inúteis sentimentos
que berro sozinho no silêncio do meu quarto sem fronteiras...

Sinto-me de um lugar tão longínquo,
como se vivesse a partir da perda da memória,
sem precedentes, tampouco destinos,
perambulando nos preâmbulos da noite
enxarcada de solidão e vinho,
esperando o resgate, esperando a vitória inexistente,
esperando um consolo amigo,
uma vida coerente,
uma palavra apenas verdadeira...

Choro repentinamente escutando a chuva,
ligo o chuveiro para tentar limpar o que tanto incomoda
descobrindo que tenho medo da purificação,
de ser fiel, de merecer,
medo do tudo que me quer e me torna incapaz...

Revivo então cada palavra,
compreendo cada ato
e me humilho na hipocrisia
da minha mesma prisão desde a infância...


Fique em paz...
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terça-feira, novembro 16, 2004

"Hoje"



Hoje completei-me
no sentido do ser e estar
que tanto julgamos
no etéreo das frases
e pouco usamos
na vivência de se ser
e estar realmente felizes.

Hoje me vi em determinados
momentos sensíveis e sensitivos,
onde a insignificância do lutar em vão
se retraiu e absorto
deixou o brilho se espairecer
por entre as têmporas da vida
e florescer em forma de flores do campo.

E ao me ver,
vi que sou mais do que
vejo que sou quando penso
sobre o que sou...

E, desde então, pareço-me longínquo,
mais real,
um pouquinho menos atacado pela solidão,
vibrando como se tem que vibrar,
vivendo como se tem que viver,
pulsando como se pudesse amar,
amando como se pudesse sobreviver,
soprando como se soubesse soprar,
errando para o poeta sempre escrever...


Fiquem em paz...
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quarta-feira, novembro 03, 2004

"Existir por não conseguir"



Minha vida não tem mais graça,
não faz mais sentido sem o que eu nunca tive.

Minha vida perdeu o rumo
no silêncio absorto em que sempre estive.

Perco meu fôlego tentando imaginar cenas
que não se encontram sequer no meu inconsciente.

Tento ser vão em vão,
tento reconstruir errando,
tento emocionar hipoteticamente,
tento falhar meus sentimentos,
tento matar tudo o que não tenho,
tento existir por não conseguir,
tento tentar algo cabível.

Pelo menos uma vez...

Surpreendo tanto que me isolo,
perco-me de vez
e regrido à inercia do ponto de partida...


Fiquem em paz...
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