quinta-feira, abril 21, 2005

"Raios cor de céu"



Estive ali, defronte aos fatos óbvios, tanto tempo
que não pude perceber suas garras cruéis,
que não tive coragem de abrir os olhos e ver seu egoísmo,
que não tive coragem de me entregar...

E você passa, passa, passa, todos os dias pelos meus olhos,
todos os momentos pela minha consciência, relembro-me
dos traços, do carinho, da poesia, do canção que me urde
e me torna insuportável ao meu prórpio mundo,
mundinho doente de uma alma doente e frágil
que carrega o fardo da escrita e das artes.

Não me noto ao te notar, não nos vejo ao te ver me olhar,
e sinto vontade, me corrôo para um dia encontrar
e ver o paraíso, ver léguas e léguas nos separando
e nos unindo, nos eternizando...

Vôo por planetas malucos e negros, obscuros em busca
dos seus raios cor de céu, deixo-me dourando para aquecer
seus desejos carnais, transcendo-me ao último mendigo
e ao pobre milionário, passo a entender filosofias de Osho,
de Kafka, de Aristóteles, passo a crescer dentro das minhas
restrições para que me enxergue, passo a escrever incessantemente
para fazer barulho, e me vejo acompanhado e sozinho,
sorrindo num luto que não termina, um luto aterrorizador
como os de Gabriel Garcia, uma tempestade imunda como as de Camus,
com lágrimas incoerentes, como as do Neves...

Se hoje olhar para cima, não irá me encontrar,
se amanhã olhar para frente não me verá,
se depois de alguns dias olhar para baixo
também não me verá, porque eu deixei de existir
na fantasia do seu mundo malogrado de esperanças...

E o dia que eu for te buscar, não se esqueça
de que será para sempre...


Fiquem em paz...
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