"Anjo amigo - In Memorian"
Vinte e um anos...
Uma idade tão célebre,
tão inconsistente e tão mágica,
uma passagem única que a maioria dos que lerem esta já terão passado, ou estarão passando,
ou ainda posso dizer que tem planos fantásticos e grandiosos quem a essa idade não chegou,
idade que tanto me ajudou,
idade que nunca mais irei ter,
idade que nesta data de hoje
estaria meu grande amigo comemorando com seus planos terrenos...
Planos, planos...
Como falar em planos se não existem regras para o tempo (!)...
Planos, planos...
Como ditá-los ao léu se nem sabemos o quão presente estaremos (!)...
E foram poucos por ele ditados,
já sabia que não precisaria ditar planos
a longo prazo,
parece que a presunção não fora bastante plausível para seus ideais,
ele não imaginava ter 21 anos,
ele queria e batalhava diariamente para apenas ser eterno,
apenas para fazer feliz a quem ao seu lado estivesse,
pois ele precisava ensinar a todos
a fórmula mágica
do desprendimento,
do encantamento,
precisava ensinar a todos o que significa ser simplesmente feliz,
o que significa simplesmente sorrir
por sorrir,
gritar
por gritar,
interpretar
como se o mundo fosse um palco
e o futuro
as cortinas que lentamente se abrem,
vivendo os ensaios que se calaram antes das cortinas
intituladas da vida
se abrissem,
antes mesmo da contracenação
dita e vivida
ter saído da sua majestosa puberdade,
fazendo-me voltar no tempo
e imaginar como estaria o seu brilho,
como estaria suas interpretações e interpolações
que apenas sua clara e simples mente era capaz de fazer...
Como estaria eu (?),
que escrevo aos prantos
sem mesmo poder,
pois em sonhos astrais ele pediu-me
para que não mais o fizesse...
Como estaria minha face com as lágrimas sempre secas (?),
será que seria tão desprendido,
será que seria tão compreensivo,
tão amável com os que não tem o dom da compreensão,
Como estaria ele, (?)
será que forte,
namorando a Claudia,
qualquer outra mulher,
tão especial quanto a cineasta expelida do meu âmago
em formas de palavras nessa mesma excêntrica linha imaginária,
estaria ele cursando de teatro comigo,
já teria sua casa em Ubatuba,
já me levaria com seu carro consorciado
para ver o brilho das estrelas,
para quebrarmos quantas cidades fossem preciso,
erraríamos em vão,
divagaríamos sobre o nada,
pois o nada tornara-se inexistencial a ponto da sua inexistencialidade se obrigar a divagar durante o nada,
com o nada sendo o máximo denominador que poderíamos ter em comum,
dormiríamos na praia
ao relento
como outrora fizemos,
nos perderíamos em busca da noite perfeita,
invadiríamos o aeroporto,
como outrora ele fez,
sem o risco do choque mortal,
sem o risco do tiro certeiro,
pois eram apenas tempos de liberdade,
eram apenas tempos de desapego,
onde o existir era uma simples vara de condão
que ditava as regras dessa transmutação de fatos que hoje
tornara-se incompreensível
dentro da minha cabecinha incapaz,
dentro da minha lucidez,
dentro do meu peito que está amuado,
está sôfrego de saudades,
está desmoronado de lágrimas,
lágrimas não pela lembrança da doença que o levou,
mas dos tempos onde a liberdade era nossa simples opção libertista
de todos os nossos atos e situações,
onde a música era cantada em uníssono,
onde o companheirismo era mútuo,
onde as jaulas imposicionadas pela vida ainda estavam abertas
a todos
que quisessem adentrar,
pois não tínhamos manchas na nossa mente,
não tínhamos o buraco eterno dentro de nós,
não tínhamos a preocupação
de como seriam os aniversários sem a presença,
sem a festa tão esperada
ano a ano
nos prédios mundanos...
Como tudo isso aconteceu (?) ,
Como foram criadas tantas barreiras (?),
Mesmo ele implorando para não criarmos,
mesmo ele gastando toda a poupada energia,
se materializando para simplesmente dizer que está bem,
pedindo,
implorando
para não chorarmos,
e mesmo assim
me vejo no banheiro,
me olhando no espelho,
como uma criança
chorando,
tendo que respirar fundo
para que não ouçam que choro,
pois não merecem me ver triste,
pois não compreenderiam a minha tristeza,
piorando ainda mais minha situação,
então recorro ao papel reciclado,
a caneta esferográfica,
desato meu molhar sobre os dois
e escrevo,
para que consiga aliviar um pouco do peso que eu não agüento,
que quem o conheceu e estiver lendo também não agüenta,
a quem não o conheceu e se sensibiliza com histórias de amor e hipérboles dramáticas não agüentará por sua vez,
mas que a certeza todos nós
- os meus conhecidos, os dele desconhecidos, os leitores e curiosos -
temos,
de que,
asas em suas costas já se criaram,
- mesmo elas tendo espiritualmente arranhado um pouquinho -
olhos ainda mais esverdeados se fizeram,
cabelos mais enrolados já cresceram
e rodopiaram
pelas nuvens brancas,
e que a sombra da dúvida que poderia ainda restar
já se dissipou
de que ele,
todos os dias,
reza para que seus comparsas,
amigos e
familiares.........................
.....................Fiquem em paz...
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