sexta-feira, agosto 19, 2005

"Na espera de um milagre do tempo"



Estava dormindo e acordei de repente, querendo te contar uma história que se passa dentro de mim...
Fiz uma analogia ao que eu sinto por você com um celular.
Cada hora sem você vou diminuindo, vou ficando mais fraco, necessitando uma nova recarga, e percebi que depois de um final de semana que ficamos colados um no outro, a segunda-feira passa tranquilinho, com carga cheia na lembrança gostosa do amor desprendido nos três dias anteriores, na terça-feira já começo a dar sinais de fraqueza, mas ainda aguento firme, mas na quarta-feira já amanheço descarregado, disperso, pensando na possibilidade de te surpreender com uma visita no meio da noite, na quinta-feira acordo sem conseguir ligar, fico desligado do mundo relembrando com aquela saudade doída pela quantidade exagerada, e não consigo prestar atenção em nada, meu corpo implora pelo seu, não consigo me conter, não consigo parar de pensar nas minhas mãos felizes passeando pelo seu corpo torneadinho, e fico lesado, perdido, insône, até que tropeço na sexta-feira e acordo esperançoso, audácioso, reenergizo-me para conseguir me arrastar até o último conselho dos seus mestres, e aí sim, me esbaldo nessa intransigência, me acabo nesse sem regras que é viver ao seu lado, me distancio do mundo para afunilar meu coração por você, e me deleito passeando mão, boca na nuca, peito com peito, perna com perna, pêlo com pêlo, sonho com sonho...
E volto o relógio várias vezes para você não perceber que está tarde, tento te embebedar no domingo para que você acredite que ainda é sábado, tento todas as formas possíveis para me manter ao seu lado, mesmo que imóvel, mesmo que cansado, mas fico firme, à espera de um beijo macio e excitante, à espera de um afago, à espera de um milagre do tempo...


Fiquem em paz...
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quarta-feira, agosto 10, 2005

"Obrigado"



Eu, andrajo desmoronado que sou por dentro
fui obrigado a me refazer em poesia para
cintilar por todos os arredores,
para causar uma impressão errônea do meu verdadeiro
estado de espírito desviado do normal.

Aprendi, dentro dessas obrigações diárias,
a me portar como um louco em festas sociais,
a usar meu temperamento contra mim,
a disputar todos os meus risos com todos,
consagrar minhas vitórias em silêncio,
dentre tantas arrogâncias que até me falho na memória.

Aprendi a ler, a escrever, a julgar e a perdoar,
me tornei cego aos temas que não me agradavam,
adocei dissabores incríveis, caminhei até meu ciático doer,
adormeci recostado na mais dura pedra do meio do caminho,
remoi tantos paradigmas, remexi com tantos sonhos
que hoje chego a sonhar que um sonho pode ser um sonho.


Fiquem em paz...
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sexta-feira, agosto 05, 2005

"Fui tudo quando trai sem trair..."



Fui sugado pelo desespero de subverter tudo o que está ao meu redor. Fui ousado quando ousei ousar. Fui fantástico quando me calei para ouvir palavras que não me serviriam para nada. Fui universal quando sorri e pude ver a doçura do mundo se abrindo aos meus pés. Fui saudável quando desisti. Fui brilhante quando desisti do sonho para procurar um sonho. Fui perspicaz quando tudo me parecia rebeldia, e me transformei no ator sem platéia que sou, equilibrei-me para seduzir minha mãe, minha falecida avó, fui triunfal quando consegui levantar da cama com o bom humor que me persegue, e desencadeei uma sucessão de fatos, uma sucessão de erros e acertos e erros e erros, até chegar no climax do meu fervor, e percebo, desatino, pulso um caminho parado, vivencio uma fuga sem rumo, uma aventura sem graça, sempre me perguntando o porquê de levantarmos e brilharmos a aura a outrens antes de ascendermos a nossa, e as nossas escolhas, escondidas, apagadas, trituradas pelos nossos medos. Mas e se eu pedisse a mim mesmo e a você, que é parte de mim, para que não sentisse medo, que não transparecesse horror, de que nos adiantaria, se estamos apenas preocupados com os nossos braços atados sempre aos braços atados de quem não nos quer? E por que não mudamos, não buscamos uma mesma história em outros personagens? Por medo do abandono? Do se revelar sem ser revelado?
Eu forjei tantas regras, inventei tantas histórias, minuceiei tantos dicionários, mas apenas fui excepcional quando pude trair sem trair minhas verdades...


Fiquem em paz...
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quarta-feira, agosto 03, 2005

"Crise"



Em suma, somos uma crise existencial de um pedaço de mal caminho.
Imploramos pelas princesas e príncipes, principiamos uma história como aquelas dos livros que líamos por obrigação para o vestibular, suspiramos, marejamos nossos olhos e embargamos nossas crianças, derrubamos tudo por um olhar, por uma simples atenção desprendida a todo instante, e quando o conosco nos acontece, nos precavemos de tal forma, nos culpamos de tal forma, que carecemos de ilusão de um psicólogo, de um tratamento único para aprender a amar.
Acho psicólotras do amor uns idiotas e mentirosos, impõem a si mesmos a incapacidade de enxergar o óbvio, deturpam a poesia, deturpam as palavras com engrandecimentos falsos, com religiões e paz de espírito que estão destroçados, e deixam de ver e sentir o abraço, o afago, a ternura.
Não sei se me encontraria novamente num mesmo local esperando aquele alguém inválido, não sei se me cegaria a olhar a minha pasta ao ponto de não ver rabiscos, não sei se sentiria nojo do seu beijo, não sei se conseguiria me firmar como seu príncipe, não sei se conseguiria encolher meus ombros de arrependimentos, só sei que você poderia ser feliz envolta nos meus sonhos, só sei que te daria mais orgasmos em um mês do que você teve em vida, só sei que você seria eterna nos meus poemas, nas minhas lágrimas, nos meus objetos, na minha lembrança vazia de você...


Fiquem em paz...
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